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Intervenção 25 de Abril - Sessão Comemorativa do 25 de Abril


Intervenção de Daniel Oliveira, 1º eleito pela CDU para a Assembleia da Junta de Freguesia da Freguesia da Penha de França



Exma. Sr.ª Presidente da Mesa da Assembleia de Freguesia da Penha de França, Exmo. Superintendente, Exma. Sr.ª Presidente da Junta de Freguesia da Penha de França e restante Executivo, Exmos. Senhores membros da Assembleia de Freguesia da Penha de França, Exmas. Senhoras, Exmos. Senhores, 44 anos se passaram sobre, e Sophia de Mello Breyner e Ary dos Santos me perdoarão a ousadia, a “manhã que todos esperávamos”, a manhã “onde emergimos da noite e do silêncio e livres passámos a habitar a substância do tempo”, 44 anos se passam sobre o dia que “fez Portugal renascer”. Estamos hoje aqui reunidos, em sítio tão simbólico da revolução que mostrou ao mundo que o “povo é quem mais ordena”, numa celebração que não pode ignorar a urgência de celebrarmos Abril hoje, amanhã, depois e todos os dias que nos restam, para que a memória não seja um exercício vão e para que esta seja utilizada para construir um futuro que evite a repetição das prisões do passado. São cada vez menos os que construíram e viveram esses dias presentes entre nós, ou não fosse o tempo essa ceifeira impiedosa que nos leva os heróis, mas que ignora que estes, de tão grandes que foram, persistirão além da ausência física. E é esse legado dos que resistiram, dos que ousaram dizer que não, dos que foram presos, dos que foram torturados, dos que foram perseguidos, dos que enfrentaram a clandestinidade, dos que abdicaram de tudo para construir um futuro melhor para todos que não podemos deixar de celebrar e cantar para a eternidade. Porque muitos, como eu, nunca souberam o que era viver em ditadura, nunca souberam o que era viver debaixo da opressora canga do fascismo. Porque muitos podem achar que tal nunca se repetirá. Porque muitos podem baixar a guarda e voltar a depositar o seu futuro nas mãos de outros, com as consequências que se conhecem. É tempo de nos deixarmos de pruridos e de gritarmos bem alto o que foram 48 anos de um país. É tempo de não termos de vergonha de dizer de viva voz que sim, muitos foram mortos às mãos do fascismo, que muitos foram torturados e marcados para todo o sempre pelos carrascos da PIDE, que muitos foram mandados para matar e morrer numa guerra sem razão, que muitos fugiram do seu país para dela fugir, ou da míngua a que cá dentro eram votados. É tempo de relembrar um povo que foi votado ao analfabetismo para que nada questionasse, que foi deixado a morrer sem um médico, que foi explorado nos campos de Norte a Sul, que foi explorado nas fábricas de uns poucos que sempre cearam à mesa da ditadura. Foi isto de que nos livrou o 25 de Abril de 1974 e todas as mulheres e homens que o fizeram. Mas é isto também que nos mostra que ainda falta cumprir tanto Abril. No processo de não ter medo nem vergonha de chamar as coisas pelos nomes, nunca esquecemos que o 25 de Abril foi uma RE-VO-LU-ÇÃO. Assim, sem pruridos, uma REVOLUÇÃO. O grito de um povo cansado, que resolveu tomar nas suas mãos o seu destino. E que mais não construiu, porque não o deixaram. Não nos podemos contentar com o trocar o sistema do partido único por uma democracia limitada, que favorece os de sempre e onde a comunicação social se confunde com propaganda. Não nos podemos contentar em trocar a guerra colonial pelo apoio a outras guerras onde outros querem agora fazer colónias. Não nos podemos contentar em trocar o analfabetismo pelo adormecimento colectivo, onde a participação cívica, a cultura, o associativismo são substituídos pelo espectáculo, pela publicidade, pelo entretenimento que adormece a mente. Não nos podemos contentar em quebrar com a exploração nos campos e nas fábricas para substituí-la pela exploração nos call-centers ou nos supermercados. Não nos podemos contentar em trocar a falta de médico, pela falta de dinheiro para o médico. Não nos podemos contentar em trocar a fome pela pobreza. Não nos podemos contentar em trocar a fuga do país por causa da guerra, pela fuga do país pela falta de oportunidades. Queremos mais e sempre quisemos mais e disso não nos envergonhamos. Tal como não nos envergonhamos de gritar sempre bem alto que foi o 25 de Abril e quem o fez, que abriu as portas a tantas e tantas conquistas e que nos deixou nas mãos a responsabilidade de as aprofundar e, sinal dos tempos, de as defender. Porque ao povo, nada é dado, tudo tem de ser conquistado. Que todos os dias nos lembremos de mais essa lição de Abril. Viva o 25 de Abril!


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